01 setembro 2013

Poema Destinado a Haver Domingo

Poema: Natália Correia (ligeiramente adaptado) [texto original >> abaixo]
Música: Aníbal Raposo
Arranjo: Carlos Frazão
Intérprete: Helena Oliveira* (in CD "Helena Cant'Autores Açorianos", Helena Oliveira, 2007)
Versão original: Aníbal Raposo (in CD "Maré Cheia", MM Music, 1999)





[instrumental]

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor de um navio em movimento.
E como ave, ficar parada a vê-la.
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara p'ra passear a pé
Esta distância achada p'lo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

[instrumental]

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa num flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre.

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto de uma ilha 
Onde o Amor por fim tenha recreio.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara p'ra passear a pé
Esta distância achada p'lo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

[instrumental]


* Carlos Frazão – piano
Mike Ross – contrabaixo
Manuel Rocha – violinos
Joaquim Manuel Teles (Quiné) – bateria e percussões
Helena Oliveira – voz
Direcção musical – Carlos Frazão e Helena Oliveira
Concepção artística – Helena Oliveira
Concepção de percussão – Joaquim Manuel Teles (Quiné)
Concepção de violinos – Manuel Rocha
Concepção de contrabaixo – Mike Ross
Produção executiva – Jorge Lavouras e Helena Oliveira
Gravação – Raul Resendes
Misturas – Raul Resendes e Carlos Frazão
Edição de voz e masterização – António Pinheiro da Silva



POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO

(Natália Correia, in "Passaporte", Lisboa: Edição de autor, 1958; "O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I", Lisboa: Projornal/Círculo de Leitores, 1993 – pág. 205; "Poesia Completa", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999 – págs. 153-154)


Bastam-me as cinco pontas duma estrela
E a cor dum navio em movimento.
E como ave, ficar parada a vê-la.
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio do cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama dum domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa num flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre.

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha 
Onde o Amor por fim tenha recreio.